sábado, 22 de dezembro de 2007


O amor acaba; assim foi e assim será.
Numa quarta feira de cinzas, num sábado de carnaval, o amor se perde, entre o rebolado de duas passistas, de baixo da saia da baiana, o dumbo ecoando as batidas que já não vêm do coração.
O amor encolhe, anorexico, suicida-se de melancolia. Acaba num átomo de infarto - 'tão jovem!', dirão -, ou as poucos pingando, uma lenta e imperceptivel hemorragia.
Pálido amor, morre de velhice, de obesidade, de preguiça; o amor sempre desaparece.
No fundo de uma gaveta, entre cartas de amor e contas de luz de 1987, o amor embolora, cria fungos, amarela.
Acaba entre um sorriso e um soluço, no meio do filme, no cinema, no movimento da mão que busca a outra mão na poltrona, mas mão já não há.
Acaba no papel de bala amassado, metido no bolso; Lá se vei ele, tão frágil, o amor acaba no mesmo colo de sempre, na cama, no gozo triste, na distancia entre dois corpos dormentes,
Num cafuné estéril, cadê o amor que estava aqui? O gato comeu, o ladrão levou, o anel que tu me destes era vidro e se quebrou, o amor que tu me tinhas, cadê, meu Deus, o amor?
O amor escorre, escapa, dissolve, seca, evapora-se de nós, pobres criaturas, 'feitas apenas para o amor e sofrer de amor'; o amor acaba nas férias, na praia, no sol, em segundas-feiras cinzentas no escritorio.
Ou em piscinas e cinzeiros, em braços e ofensas, o amor acaba com ódio, acaba mesmo com amor, nem tanto, um tanto só, de amor; acaba sozinho, culpado, acaba em conjunto, triste; esquece-se o amor, como uma música da infância, uma tarde em que morreremos de rir.
Uma cidade inteira onde já estivemos e já não está mais dentro de nós.
Onde foi parar, o amor? Foi-se embora pra pasárgada,onde é amigo do rei (de nós, certamente já não é), fugiu para marancagalha (com amália?),
Aposentou-se no beleléu, foi pro inferno, pro limbo, pro céu, ou quem sabe, reside agora num baú, num sótão, numa rua calma em santa rita de passa quatro;
O amor não escolhe o momento de termino, vai-se no susto de um pôr-do-sol interrompido por uma buzina, no primeiro ônibus da manhã,
é soterrado pela pilha de jornais atirados diante uma porta, vai embora com a borra do café; 'em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; Por qualquer motivo o amor acaba; pra recomeçar em todos os lugares a qualquer minuto o amor acaba'.

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